"Dia e Noite", M.C. Escher

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Filosofias de Calçada

Em homenagem ao retorno do blog Filosofias de Calçada, postamos o trecho de Seinfeld que foi citado lá no post de reestréia:

"Cosmo Kramer: You’re wasting your life.
George Costanza: I am not. What you call wasting, I call living. I’m living my life.
Cosmo Kramer: OK, like what? No, tell me. Do you have a job?
George Costanza: No.
Cosmo Kramer: You got money?
George Costanza: No.
Cosmo Kramer: Do you have a woman?
George Costanza: No.
Cosmo Kramer: Do you have any prospects?
George Costanza: No.
Cosmo Kramer: You got anything on the horizon?
George Costanza: Uh, no.
Cosmo Kramer: Do you have any action at all?
George Costanza: No.
Cosmo Kramer: Do you have any conceivable reason for even getting up in the morning?
George Costanza: I like to get the Daily News."

Nunca deixei de acreditar na volta do Filosofias de Calçada, tanto é que o mantive aqui no blogroll esse tempo todo. E, claro, Seinfeld foi a melhor série de todos os tempos.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

A Resistência do Homem Cordial

O Brasil foi, durante muito tempo, o país do homem cordial. Ninguém era mais simpático, sorridente e brincalhão que o brasileiro. Ninguém passava na frente de uma casa sem que lhe oferecessem uma cadeira, um cafezinho com açúcar demais e umas bolachas ou uns salgadinhos feitos pela filha mais nova.

No meio do caminho, a coisa mudou. De repente, o país virou de ponta cabeça e as pessoas passaram a se aprisionar voluntariamente em casa para evitar que gente que deveria estar presa aprisionasse-as numa despensa ou banheiro nos fundos de uma casa escondida e ligasse para a família pedindo um resgate.

Nos tornamos assustados e passamos a assustar uns aos outros. Há uns tempos, desci a noite numa parada de ônibus meio esquisita e, sem relógio que estava, perguntei a alguém que passava a hora. O sujeito saiu disparado, sem responder. Julgou que eu iria tomar-lhe o relógio, o telefone, a carteira e talvez os sapatos.

Aparentemente, passou o tempo em que as pessoas faziam uma roda de cadeiras na calçada à noite para comentar os resultados do futebol e a inabilidade dos políticos ou receitas de bolo e o capítulo da novela. Passou o tempo em que vizinhos mandavam as mangas e os cajus que lhe nasciam nos quintais uns para os outros.

Mas a verdade é que, a despeito de tudo, o homem cordial – e a mulher, igualmente cordial – resiste. E é maioria. Ainda insiste para que se entre e se tome um cafezinho, suquinho ou qualquer outra coisa, invariavelmente no diminutivo. Ainda diz “apareça lá em casa”. Não diz o endereço, é verdade. Mas não se pode culpá-lo. O homem cordial é inevitavelmente anacrônico, do tempo em que se sabia onde todo mundo morava. E, se não sabia, era fácil de encontrar. Sempre tinha, nas calçadas, sob a sombra de uma árvore, uma senhora (também cordial) que dava conta do endereço e da vida da cidade toda.

A resistência é silenciosa e, por vezes, imperceptível. Muitos não notam a presença do homem cordial. Alguns chegam a duvidar de sua existência, embora ele seja onipresente. Onde menos se espera, aí também está o homem cordial, com seu sorriso no rosto, por vezes perfeitamente branco, por vezes torto, por vezes privado dos dentes. Mesmo nas passeatas contra George Bush, que acompanharam a visita do presidente estrangeiro, em março de 2007. Enquanto a multidão pichava as ruas e levantava cartazes de “Fora Bush”, “Go Home, Bush” e “Bush: terrorista número 1”, lá estava o homem cordial. Vestia uma cartolina como se fosse camiseta, com os seguintes dizeres: “Bem Vindo ao Brasil Joge Buche".