"Dia e Noite", M.C. Escher

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Herói Americano

(Supostamente, o blog deveria publicar sua posição sobre a corrida presidencial americana. Mas nossas opiniões divergem... hehehehehe Nesse momento, declaro meu apoio inútil)

Arnold Schwarzenegger e Rudy Giuliani se referiram assim a John McCain essa semana, quando ratificaram o apoio à candidatura do senador.
McCain foi prisioneiro de guerra durante 5 anos no Vietnã, 3 deles na solitária. Piloto da Marinha, teve a asa do avião atingida por um míssil durante a sua 23ª missão de bombardeio. Ejetado do avião, caiu num lago, quebrou um braço e uma perna e foi feito prisioneiro por vietnamitas. Ser capturado não torna ninguém herói; mas McCain recusou durante anos a fio a libertação em prol dos prisioneiros que estavam lá há mais tempo. (Interessante é ver que John McCain II, pai do candidato, ordenou, enquanto Almirante da Marinha no Vietnã, bombardeios no perímetro em que o filho era mantido refém).
Ser herói de guerra, contudo, não qualifica ninguém à presidência da república. Mas a carreira política de McCain o qualifica. Começou em 1982, com na Câmara e, depois, no Senado. Sua trajetória parlamentar é marcada pela defesa do dinheiro dos contribuintes, confrontando empreiteiras e parlamentares, aprofundando-se até a questão do financiamento de campanhas (um parlamentar com atuação semelhante seria bem-vindo no Brasil) e pela coerência. Mantém-se na defesa da presença de tropas no Iraque, por mais votos que possa perder, embora critique a forma como a guerra foi conduzida. Defende redução de impostos e de restrições ao financiamento de pesquisas com células-tronco. Apoiou o aumento da cobertura do sistema de saúde a idosos e crianças, a legalização de imigrantes (se falarem inglês e pagarem impostos) e os limites aos gases estufa.
Dizem que Obama lembra de certa forma o presidente Kennedy. McCain tem um ar de Churchill. O mesmo humor ácido e, por vezes, auto-depreciativo do inglês. Controvérsias no passado (McCain colecionou deméritos na Marinha; Churchill colecionou desastres militares na Primeira Guerra). Sobrevivência nas dificuldades (McCain sobreviveu a duas quedas de avião, uma explosão num porta-aviões, tortura, câncer e um divórcio; Churchill também viu a morte passar perto várias vezes).
E a certeza de não desistir quando o país precisar.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Nobel da paz para o Big Stick

"Speak softly and carry a big stick; you will go far".

Essa frase poderia ter sido sussurrada por Don Vito Corleone, mas quem de fato gostava de dizê-la, segundo o site da Casa Branca, era Theodor Roosevelt, que presidiu os Estados Unidos no início do século XX e é até hoje avaliado pelos americanos, em pesquisas de opinião, como um de seus melhores presidentes.

O curioso é que o autor da frase ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 1906.

"Si vis pacem, para bellum" - se queres a paz, prepara-te para a guerra, diziam os romanos.

A propósito: a música tema de "O Poderoso Chefão" chama-se "Speak Softly, Love".

Norris apóia Huckabee

que(Continuando a intensa cobertura das primárias americanas pelo Diários e Noturnos! hehehehehehe)

Disse Chuck Norris: ''Quando me perguntam quem é mais durão, se sou eu ou Mike Huckabee, eu digo que ele é muito mais".

Continuo tendo John McCain como meu candidato republicano favorito. Mas nunca falarei mal de Huckabee. Jamais!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Kennedy apóia Obama

Não, John Fitzgerald Kennedy - que descanse em paz - não ressuscitou dos mortos (não há outro lugar de onde se possa ressuscitar, pelo que se sabe), nem seu irmão Bob. Também não falo de qualquer outro Kennedy - vivo ou morto.

Quem escreveu ao The New York Times para declarar que apóia a candidatura de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos foi uma Kennedy, Caroline, filha de JFK. O artigo, intitulado "A President Like My Father", foi publicado ontem.

Caroline deve ter deixado gente como Bill Clinton com inveja:

"I have never had a president who inspired me the way people tell me that my father inspired them. But for the first time, I believe I have found the man who could be that president — not just for me, but for a new generation of Americans".

Amor fati

"A inteligência é encontrar o júbilo de um sorriso diante do que não se pode evitar".

João Moreira Salles, em entrevista à revista Bravo! sobre o seu último documentário, Santiago, lançado em meados do ano passado.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Qual é o peso da luz?

O The New York Times publicou, na sexta-feira passada, editorial de apoio à candidatura de Hillary Clinton à presidência dos Estados Unidos. No mesmo dia, manifestou apoio a John McCain nas primárias republicanas - nas primárias somente; na disputa presidencial, estão com os Democratas.

Declaração de apoio por veículo de comunicação é algo raro no Brasil, infelizmente. Jornais, revistas, sites e emissoras de rádio e TV brasileiros costumam optar por não declarar expressamente suas preferências - devem temer que isso possa afetar suas supostas credibilidade e neutralidade. Via de regra, não passa de estratégia pouco franca de dar maior força persuasiva às suas posições enrustidas.

Este blog opta pelo modelo transparente de jornalismo. Evidente, no entanto, que não há motivo para que nos posicionemos sobre toda e qualquer eleição; apenas sobre aquelas em que nossa opinião possa ter peso significativo. Por isso, publicaremos, ainda nesta semana, nosso posicionamento sobre a corrida presidencial nos EUA.

Qual é o peso da luz?

Paródias em bom Tom

É, meu amigo, só resta uma tristeza
É preciso acabar com essa certeza
É preciso inventar de novo o amor

Carta ao Tom

Carta do Tom

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Totalitarismo e anti-intelectualismo

"O filósofo Miguel de Unamuno, autor de O sentimento Trágico da Vida, era reitor da Universidade de Salamanca quando os falangistas tomaram a cidade. No Dia da Raça uma cerimônia reuniu as mais importantes figuras do poder fascista. E o general Milan Astray, fundador com Franco, da Legião Estrangeira, discursava:

Gen. Milan Astray:
O fascismo vai restaurar a saúde de Espanha!
Abaixo a inteligência!
Viva a morte!

Coro
(Fazendo a saudação fascista.)
Viva a morte!

Gen. Milan Astray:
Espanha!

Coro
Unida!

Gen. Milan Astray:
Espanha!

Coro
Forte!

Gen. Milan Astray:
Espanha!

Coro
Grande!

Gen. Milan Astray:
Viva la muerte!

Coro:
Viva!

Miguel de Unamuno:
Senhores!

Coro:
Viva la muerte!

Miguel de Unamuno:
Senhores! Meu nome é Miguel de Unamuno. Todos me conhecem. Sabeis que sou incapaz de me calar. Há momentos que calar é mentir. Desejo comentar o discurso - se é possível empregar esse termo - do general Milan Astray, aqui presente. Acabei de ouvir um brado necrófilo insensato: 'viva a morte'. E eu que passei minha vida dando forma a paradoxos, devo declarar-vos, aos setenta e dois anos, que um tal paradoxo me é repulsivo. O General Milan Astray é um aleijado. (Reação do coro.) Não há nesta afirmativa o menor sentido pejorativo. Ele é um inválido de guerra; Cervantes também o era. Infelizmente há na Espanha neste momento um número muito grande de aleijados, e em breve haverá um número muito maior, se Deus não vier em nosso auxílio. Causa-me dó pensar que o general Milan Astray esteja formando a psicologia da massa. Um aleijado destituído da grandeza espiritual de um Cervantes tende a procurar alívio causando mutilações em torno de si.

Gen. Milan Astray
(Olhando fixament para Unamuno em tom de desafio.)
Abaixo a inteligência! Viva a morte!

Coro
Viva!

Gen. Milan Astray
Viva a morte!

Coro
Viva!

Miguel de Unamuno
Senhores!
Este é o templo da inteligência! E eu sou seu sacerdote mais alto. Profanais este sagrado recinto. Ganhareis, porque tendes à força bruta. Mas não convencereis. Porque para convencer é necessário possuir o que vos falta: razão e direito em vossa luta. Considero inútil exortar-vos a pensar na Espanha. Tenho dito.

Gen. Milan Astray
(Com ar triunfante.)
Abaixo a inteligência! Viva a morte!

Coro
Viva a morte!

Gen. Milan Astray
Viva a morte!

Coro
Viva!

Unamuno foi preso; e morreu dois meses e meio depois".

Retirado de Liberdade, Liberdade, de Millôr Fernandes e Flávio Rangel, de 1965, que extraíram o trecho do livro A Guerra Civil Espanhola, de Hugh Thomas, 2o volume.

O suicídio filosófico seria o primeiro passo para o totalitarismo?

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Os Cajus de Newton

Não é o que você está pensando, leitor. Não venho contestar que Isaac Newton tenha sido atingido por maçãs. Devem ter sido maçãs mesmo. O Newton que falo é outro. É possível que você não o conheça, se não for potiguar. Aqui, Newton Navarro é uma espécie de lenda. Poeta, pintor, boêmio, trouxe o modernismo até o meu Rio Grande. Hoje, dá nome a uma belíssima ponte.
Não tenho lembranças de Newton Navarro. Quando morreu, eu devia ter uns três ou quatro anos. Recordo-me muito bem, contudo, da sua esposa, Salete. Até dia desses, era minha vizinha (faleceu não faz muito tempo).
Ano após ano, Salete Navarro, uma dessas senhoras simpáticas que sempre nos tratava como se fossemos seu filho ou neto e nos chamava pra conversar quando passávamos, mandava pra minha família alguns dos primeiros cajus da árvore que tinham na frente de casa. Em um dos anos, mandou junto um dos textos de Newton Navarro, num papel já meio amarelo. Newton contava que, quando saiu de casa, de manhã cedo, viu os primeiros cajus. Três cajus, ainda pequenos, ainda verdes. E ele achava os três cajus algo extraordinário. Se tivessem nascido três maçãs no cajueiro, ele não teria se espantado mais. Eram os três primeiros cajus. E isso era cheio de poesia e cheio de esperança e cheio de alegria. E isso era o suficiente pra ele.
Ontem, quando saia de casa, parei na frente do cajueiro da esquina. Lá estavam, três pequenos cajus, lado a lado, meio escondidos entre as flores, pequenos, verdes. Não eram os primeiros: a árvore já tinha um bocado de cajus. Não seriam, tampouco, os últimos. Newton não está mais lá. Salete não está mais lá. Mas o cajueiro ainda está. E é cheio de poesia e cheio de esperança e cheio de alegria. E isso, por alguns instantes, fui o suficiente também pra mim.