"Dia e Noite", M.C. Escher

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Uma Nova Forma de Fazer Política

Durante um longo tempo, a política no Brasil (e em outras partes do mundo – não sejamos exclusivistas) se revezou entre promessas que não entravam no papel e projetos que não saiam dele. Eleições e inícios de governos foram períodos particularmente fecundos para esse tipo de coisa. Acredito que você lembra, por exemplo, do “Fome Zero”, do “Pacto Social” e de muitos outros exemplos que foram pouco longe.
Chega uma hora, contudo, em que a população cansa, e torna-se necessário oferecer algo mais. Vejo que essa hora se aproxima, e as mudanças começam a surgir.
Atingimos nos últimos anos um avanço possivelmente histórico. Ao invés de inventar projetos mirabolantes, que muito provavelmente não surtiriam efeito algum, inauguramos uma Nova Era. Agora, a política está sendo feita de outro jeito: basta escolher uma dúzia de projetos e ações já existentes – ou várias dúzias, dependendo da visibilidade que se procura – e agrupá-las debaixo de um nome novo. Os projetos e ações escolhidos devem existir a muito tempo e, de preferência, não trazer nenhuma inovação, porque inovação pode acabar atrasando o andamento. Se tudo já estivesse previsto no orçamento para ser implantado, independente dos malabarismos do governo, melhor ainda.
Só existe uma restrição: o nome escolhido deve ser bonito, ter uma boa sonoridade e conquistar os eleitores. Pode se chamar Programa de Aceleração do Crescimento, Territórios da Cidadania, ...
Propaganda ainda é a alma do negócio.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A lógica de Al Capone

Em 1929, Al Capone foi escolhido nos Estados Unidos como um dos homens mais importantes do ano, ao lado de gente como Albert Einstein e Mahatma Gandhi.
O chefão mafioso de Chicago foi um dos que mais lucrou com a Lei Seca. Controlava com violência o comércio de bebida, a prostituição, os clubes noturnos, pontos de jogos, bancas de apostas, etc etc etc. E insistia em se manter constantemente na mídia. Suas atividades ilegais eram de conhecimento geral. Mas ninguém ousava desafiá-lo.
Em 1931, Al Capone foi preso, julgado e condenado. Em outubro, começou a cumprir pena. Seu grande crime, no fim das contas, foi sonegar imposto de renda, o que pode ser considerado uma violação bastante irrelevante em comparação com as demais que cometeu.
É engraçado ver hoje, com a crise dos cartões corporativos, a discussão sobre grandes e pequenos crimes, como se os menores fossem sempre dignos de perdão. Al Capone teria aprovado essa lógica. E saido impune.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Espírito esportivo

Sobra-me espírito esportivo.

Só espírito mesmo.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

A questão da experiência

"LORD DARLINGTON: You are far too young!

CECIL GRAHAM: That is a great error. Experience is a question of instinct about life. I have got it. Tuppy hasn't. Experience is the name Tuppy gives to his mistakes. That is all. [LORD AUGUSTUS looks round indignantly.]

DUMBY: Experience is the name every one gives to their mistakes."

Oscar Wilde, Lady Windermere's Fan.

Quanto pesa a mão de uma criança?

"Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossege
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação."

Carlos Drummond de Andrade, Os ombros suportam o mundo.

A mão de uma criança pode pesar muito mais do que parece.


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Valéry e os cartões corporativos

Da celeuma dos cartões corporativos, os federais e os paulistas, renasceu a interminável discussão sobre quem é mais ou menos corrupto, se os tucanos ou os petistas, e quais coberturas jornalísticas têm sido e são mais ou menos isentas.

Ante isso, não posso deixar de concordar com Paul Valéry, em frase citada como epígrafe de Claro Enigma de Carlos Drummond de Andrade:

"Les événements m'ennuient".

[Tradução livre: "Os acontecimentos me aborrecem".]

Melhor Valéry do que Valério.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Do be do be do

"To be is to do." - Camus
"To do is to be." - Sartre
"Do be do be do." - Frank Sinatra


Do Migalhas International de hoje.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

No country for old men

No ano em que o filme “No Country for old men” é o grande favorito ao Oscar, o senador John McCain, que fará 72 anos em agosto, será o candidato dos Republicanos à presidência dos Estados Unidos.


Coincidência ou não, é um belo presságio.

"Pobre do país que precisa de heróis", dizia um personagem de Bertolt Brecht.

Memórias de Ex-Pirro, um trocista

Entre ser fascista, leninista, stalinista, anarquista ou trotskista, Ex-Pirro não teve dúvidas.

Optou por ser trocista.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Romney is out

Na "Super-terça", 5 de fevereiro, quando praticamente metade dos delegados foram definidos, a candidatura de John McCain ganhou um forte impulso. Hoje, quinta, o segundo colocado na corrida republicana, Mitt Romney, anunciou que abandona a campanha. Oficialmente, Ron Paul e Mike Huckabee ainda estão na disputa. Na prática, contudo, a vitória de McCain fica consolidada.
A vitória confere ao senador do Arizona alguns meses a mais de campanha, o que pode ser importante para um candidato vindo de um partido em crise.
Do lado democrata, Hillary Clinton ganhou mais delegados; mas Barack Obama ganhou mais estados, e sua candidatura se fortalece a cada dia. A indefinição ainda deve continuar por algum tempo.
Mais do que as eleições anteriores, essa eleição americana parece se tornar uma disputa não simplesmente entre dois candidatos, dois partidos, mas entre duas formas diferentes de ver o futuro. Uma delas já tem rosto.