"Dia e Noite", M.C. Escher

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

A Profecia de Nelson Rodrigues

Certas pessoas são tão geniais em determinadas atividades que nos dão a impressão de que seriam igualmente gênios fazendo qualquer coisa. Se Isaac Newton, ao ser atingido por uma maçã, não tivesse pensado na lei da gravitação universal, mas apanhado duas ou três outras maçãs e começado a fazer malabarismos, teria sido igualmente revolucionário, igualmente importante. Se Nelson Rodrigues - dramaturgo, reacionário, supostamente tarado – tivesse se dedicado a ler mãos ou bolas de cristal, teria previsto praticamente todos os acontecimentos dos últimos 17, 18 anos.

Em 1968, Nelson afirmou que, enquanto a esquerda que lá estava não fosse substituída até o último idiota, não iria acontecer nada, “rigorosamente nada”. “Sem tal substituição, nada é possível e tudo continuará perdido e cada vez pior”. A esquerda não foi mudada. Nelson não completou o raciocínio: não disse que, enquanto a direita não fosse substituída até o último idiota e que enquanto esquerda e direita não fossem substituídas até o último canalha, tudo continuaria perdido. (Obviamente, muita coisa mudou, muita coisa melhorou. Mas apenas um idiota da objetividade diria que a afirmação é errada).

Em 1968, Nelson afirmou que “os idiotas perderam a modéstia, a humildade de vários milênios. Eles estão por toda parte. (...) E, de mais a mais, são numericamente esmagadores. Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem”.

Em 1968, Nelson afirmou que se estabelecera o “ódio ao herói”, o ódio aos que lutavam sozinhos, aos que resistiam. “Os que capitularam precisam destruir o que não se rendeu”.

Em 1968, Nelson antecipou os escândalos de José Dirceu e companhia, as declarações de Almeida Lima sobre o caso Renan Calheiros e a canalhice que fizeram ontem aos senadores Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos quando os afastaram da Comissão de Constituição e Justiça.

2 comentários:

Ex-Pirro disse...

"Ser da esquerda, assim como ser da direita, é uma das infinitas maneiras que o homem pode escolher para ser um imbecil: na verdade, ambas são uma forma de hemiplegia moral."

Ex-Pirro disse...

Ah sim, essa frase acima é de Ortega y Gasset, em A rebelião das massas.