Neutralidade não existe. A pretensão de neutralidade é de certa forma doentia, fruto de uma Modernidade que "se esqueceu do ente" (pra usar terminologia heideggeriana), de uma sociedade que pretende anular o sujeito na assepsia da técnica.
A inexistência da neutralidade e a sua indesejabilidade não significam necessariamente, no entanto, que não se deva buscar a objetividade. Qual objetividade é possível? Difícil responder, a pergunta está no centro dos grandes debates epistemológicos contemporâneos. Sem alguma objetividade, é difícil pensar em quê a ciência e o direito podem se fundar, como podem existir. Admitimos que Jornalismo e história são Literatura, ou adotamos a posição de que há neles o inafastável compromisso com a objetividade? Os fatos existem, duros como pedras, ou existem apenas interpretações? Difícil dizer. É a tal da pós-modernidade complicando as nossas vidas.
O que não se pode admitir nesse debate são posturas desonestas. Atacar a Veja porque ela é parcial e defender a Carta Capital? Não dá. Que se ataque a Veja porque ela não apóia o seu projeto político, não porque ela é parcial, ou que não se aplauda a Carta Capital. [Entenda-se que estou utilizando parcialidade aqui como falta de compromisso com a objetividade, e não com a neutralidade, que essa é indesejável para o jornalismo, que há de ter posição e opinião.]
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
Neutralidade e objetividade
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3 comentários:
Curiosamente, eu falei sobre a neutralidade e me mantive neutro. Ou não. Eu falei que a neutralidade é indesejável. Mas, mantive-me neutro sobre a objetividade. Talvez porque esteja em dúvida sobre se preciso de objetividade para falar se existe objetividade. Isso me põe num lado - o dos que buscam a objetividade perdida... Não a velha objetividade imanentista, não a velha verdade há muito proclamada morta, mas alguma objetividade, alguma verdade.
Zorro-Astro disse: "Os fatos existem, duros como pedras, ou existem apenas interpretações?"
Particularmente acredito, luhmannianamente, que a própria distinção fatos (ou normas) versus interpretações já pressupõe os dois lados da forma.
Gosto bastante da definição (não-luhmanniana) de que fato é tudo aquilo indisponível à vontade.
Na verdade, quem o disse foi Ex-Pirro. O Zorroastro ainda não postou nada aqui no blog. Vive do nome que tem. hehehe
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