"Dia e Noite", M.C. Escher

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O Poder do Símbolo

Nada se faz nesse mundo sem um símbolo. Sem um objeto, um mito, um herói – nenhuma batalha é perdida ou ganha. A fé no símbolo é maior que ele próprio. Sua importância só pode ser medida pelo que representa.
“Sabe como tornar as crianças mais patrióticas? Conte-lhes como Wolfe tomou Quebec”, dizia Churchill. Na guerra dos Sete Anos, o General Wolfe tomou a cidade ao custo da própria vida, numa batalha de poucos minutos. O fato considerável é que nem mesmo o amor à terra de nossos pais escapa da necessidade de um símbolo, de um mito, de um herói. Recorremos a eles quando precisamos de força, esperança, apoio.
Após o 11 de setembro, Bush apelou à memória de Churchill, o homem que resistiu sozinho e não perdeu a Segunda Guerra. Evo Morales e Hugo Chavez constantemente evocam a memória de Simon Bolívar.
Os gregos têm Aristóteles, Péricles, Leônidas. Os ingleses, Duque Wellington, Lorde Nelson, William Shakespeare. Os franceses, Napoleão Bonaparte, Voltaire, General De Gaulle. Os portugueses têm Luís Camões, Vasco da Gama. Os italianos têm Júlio César, Otávio, Marco Aurélio. Os mongóis têm Gengis Khan. Os americanos têm Thomas Jefferson, George Washington, Franklin Delano Roosevelt. Gandhi, na Índia. Mao Tse-Tung, na China. Em Cuba e por aí, Che Guevara. Na Romênia, Vlad, o Empalador, também deve ter seus admiradores.
Se a resistência francesa na segunda guerra foi superestimada, se a independência americana não pôs fim à escravidão, se as revoluções cubana e soviética levaram a ditaduras cruéis, paciência! Afinal de contas, ninguém está escrevendo um livro de história (a experiência brasileira recente diz que mesmo os que estão não se importam muito com a coisa).
Quando tentaram levar um projeto adiante sem um símbolo ou quando o símbolo saiu errado, a coisa logo desandou. Como os Estados Unidos venceriam a guerra do Vietnã se o grande símbolo era a menina vietnamita correndo, com o corpo queimado? Muito mais fácil seria vencer um homem que, por trás do bigode engraçado e da Cruz de Ferro, vociferava na frente de multidões armadas.
(Abrindo um parêntese para fechá-lo logo, o símbolo “democracia” recentemente não tem tido bons resultados. Pelo menos, não os que “liberdade” e “sobrevivência da nação” vinham tendo no século XX).
Um dos muitos problemas (e dos menos relevantes, claro) do Brasil é a falta do grande símbolo, do grande herói, da identidade. A idéia de país plural, com a fusão democrática de várias raças, é bonita e ótima para dias de festa, mas não torna nenhuma criança mais patriótica. Os heróis nacionais até hoje também não convenceram muito: o único que ganhou feriado próprio foi líder discutível e bode expiatório de uma revolta que nem chegou às ruas.
O que devemos contar às crianças brasileiras?

4 comentários:

Ex-Pirro disse...

Heróis nacionais têm servido a muito totalitarismo história a dentro e mundo a fora...

Ferdinand Saraiva Maia disse...

A luz do sol é mutagênica e, portanto, cancerígena. Nem por isso vamos viver no escuro.

Heróis nacionais têm servido a todo tipo de projeto, bons e maus.

Acupuntura e Fitoterapia disse...

Muito bem escrito este artigo, curto mas com muitos detalhes. Só não devemls esquecer que temos nossos símbolos, só não os estudamos. Temos José Bonifácio, o Patriarca da Indepência, temos Rui Barbosa, Dias Gomes, Barão de Mauá e muitos outros que nos inspirariam a coisas muito mais nobres do que as que estão acontecendo hoje neste país, mas precisamos nos habituar a pesquisar sobre nossa história. Parabéns pelo artigo.

Roberta Carvalho disse...

E, por que não citarmos as mulheres que nem são citadas em sala de aula? Como Maria Quitéria,
Joana Angélica, Anita Garibalde ( talvez a mais conhecida devido a minissérie) e Bárbara Heliodora.