"Dia e Noite", M.C. Escher

domingo, 16 de dezembro de 2007

A Política das Canetas

Contaram-me recentemente que, quando era governador do Rio Grande do Norte, o atual presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho, foi a uma FIART (Feira Internacional de Artesanato, evento que ocorre a intervalos regulares aqui em Natal). Tomou a palavra. Faltavam alguns poucos meses pro fim do seu mandato – não sei se o primeiro ou o segundo. O então governador disse que reconhecia que não havia feito tanto pelo artesanato potiguar, mas que, com “o restinho de tinta da caneta”, pretendia fazer ainda muita coisa.
Os presentes sorriram. Alguns indivíduos, cuja fortuna depende dos favores de seja lá quem esteja no poder, gargalharam (o Rio Grande do Norte ainda é um estado pequeno o suficiente para que fortunas, reputações e carreiras sejam feitas de acordo com as simpatias do “Poder”). Mas se acharam aquilo engraçado, foi por não compreender que, no fim das contas, aquela frase não era um projeto inovador, não era um plano técnico, não era nem mesmo uma promessa – era apenas a maneira mais arcaica de se fazer política, a com piores resultados.
Não pretendo fazer uma crítica pessoal (juro). O que critico é a forma como se faz política nesse país. Existem exceções –graças a Deus! De qualquer forma, boa parte da vida política desse país resume-se a mandatos sem projetos, sem idéias, sem agenda; a promessas que não entram e projetos que não saem do papel; a obras que não tem fim e obras que não tem finalidade. A gente que entrou na vida pública não porque tinha um sonho ou uma aspiração superior, mas porque tinha determinados sobrenomes ou determinados apetites - e logo passou a acreditar que governar era abrir estradas e assinar papéis.

Churchill dizia que “os homens públicos orgulham-se de ser servidores do Estado e se envergonhariam de ser seus senhores”. O pessoal por aqui não leva isso muito a sério. E continua a fazer política só com a caneta.

4 comentários:

Ex-Pirro disse...

"O Estado deve passar de senhor a servidor!"

Ei-Ei-Ei-Mael!

hahahahaha

Embora Eimael não esteja dentre os políticos que eu prezo (no máximo pode-se dizer que ele tem boas intenções, o que não é nada suficiente), ele está certo nisso, com Churchill.

Ex-Pirro disse...

"o Rio Grande do Norte ainda é um estado pequeno o suficiente para que fortunas, reputações e carreiras sejam feitas de acordo com as simpatias do 'Poder'"

Os Estados Unidos também são pequenos o suficiente pra isso ainda...

Ex-Pirro disse...

E,sobre Garibaldi, vide o post

"O novo presidente do Senado é o Austin Powers?"

no Blog do Tas:
http://marcelotas.blog.uol.com.br/

Ferdinand Saraiva Maia disse...

O que eu quis dizer é que é pequeno o suficiente pra que virtualmente todas as carreiras, fortunas e reputações sejam feitas à sombra do Poder (esse negócio de usar letra maiuscúla em substantivo abstrato me parece bastante subversivo... hehehehehe). É difícil vc encontrar alguma pessoa realmente rica por aqui que não tenha algum tipo de ligação com a política.